Religião Problema Da Mulher, Mulher Problema Da Religião
Fui hoje a um evento público no qual se distribuiu brinquedos a crianças carentes e me chamou a atenção a quantidade de mulheres que são chefes de familia ali com seus filhos, e me deu vontade de falar delas aqui. A declaração do Vaticano, feita no Dia Internacional da Mulher, de que "A máquina de lavar roupas fez mais pelas mulheres no século XX do que a pílula anticoncepcional e a inserção no mercado de trabalho" caiu como uma bomba junto à imprensa e militantes feministas. Todos externaram seu descontentamento e consternação com tais palavras e muitos foram além, declarando suas guerras pessoais à Igreja.
Trata-se na verdade, de atitudes reacionárias alimentadas pelo usufruto da oportunidade que se mostrou aos que sempre querem falar, de falerem o que desejam, não importando se o que dizem agasalha-se, de fato, em uma boa fundamentação. Que a "Santa Madre" é estóica é fato inconteste, mas ela tem um excelente argumento para as sentenças que profere: a Bíblia. Que livro "maravilhoso" para as mulheres!
E o que é uma mulher na Bíblia? Aquela que troxe a desgraça pro mundo. Definições mais complacentes a colocam como "Ajudadora" do seu marido, "Companheira", etc; enfim, alguém menor que deverá estar sempre à sombra de seu senhor, seja ele seu pai ou seu esposo. A mulher tem a obrigação de ser subserviente a seu homem pois ele está sobre ela perante Deus, sim: "Cristo é a cabeça do homem, que por sua vez é a cabeça da mulher", que por sua vez não deve ter cabeça, nem pensar. O dever da mulher é a submissão.
Mas as mulheres são "rebeldes". Não seguem a ordem de sujeitar-se a seus maridos quando decidem que devem trabalhar. "Trabalhar? A mulher? Como, se é dever do marido prover o sustento da familia e obrigação dela cuidar da sua casa?" Nem quando se divorciam, e não importa se é o homem o problema, se ele é violento ou adúltero não importa, a culpa é da mulher, sim: "A mulher sábia edifica a sua casa, a tola a destrói". Se o casamento não vai bem é porquê a mulher não está sabendo ser sábia. E que culpa deve reconhecer o homem? Até quando toma corno ela é a culpada, afinal: "Não está sabendo 'segurar' seu marido."
No que tange a ser preconceituosa, a Igreja está de acordo com os valores bíblicos. Mulheres em geral e homossexuais, nunca esperem uma quebra desse paradigma. E se você não concorda com o que digo torne-se ateu, pois em todas as religiões a mulher é nada, e até aos gays masculinos é atribuído maior valor em algumas, afinal, um pênis é um pênis.
Na Grécia antiga, as mulheres serviam para tudo a seus maridos menos para passeios públicos, pois nesse caso os guerreiros sempre deveriam ter a companhia de seus efebos, jovens escravos belíssimos que se punha ao lado nas ruas e na cama. O mesmo deu-se em Roma e é fato que ocorria no mundo inteiro, vindo tais práticas a serem marginalizadas apenas com o advento do cristianismo, o que se deu de fato cerca de um século e meio depois de Cristo, ou seja, Cristo não foi cristão.
Ele, segundo os ditos, era praticante do Judaísmo; nada a ver com essa galera que o adora hoje. O mais curioso é que do cidadão só se sabe a data de nascimento, 14 de Nisã ( cai em Abril ou Maio dependendo do calendário lunar) e todo o resto é convenção: ano em que nasceu; idade em que morreu; ano em que morreu, tudo. Pra falar a verdade, o primeiro dos evangelhos, livros que narram sua vida, só foi escrito cento e vinte anos após a sua morte, e ele e os demais só relatam três anos de toda ela, fora o nascimento e um episódio no templo aos doze anos. Mais nada! E eu fico besta às vezes quando penso em quanto sangue já se derramou em nome dessa Incógnita.
E por que falar desse arquétipo religioso quando o assunto aqui é mulher? Porquê o sofrimento de algumas classes está diretamente ligado à Religião. Mulheres, negros e judeus, por exemplo, acharão facilmente na Bíblia os "motivos" que levaram a seus sofrimentos históricos; e dos arquétipos, dentre eles Buda e Maomé, Cristo foi aquele que teria falado de respeito e tolerãncia. Digo-o sem qualquer apologia.
Caríssimos, em vez de ficar fulos a cada declaração e atitude preconceituosas da Igreja, procurem enchergar na Bíblia o que não se quer ver: que a Igreja tem razão. Algo que exemplifica bem isso é a declaração do Papa Bento XVI de quê "Se as pessoas vivessem de acordo com a vontade de Deus ninguém contrairia AIDS". Ele disse isso durante uma condenação à camisinha, e a ideia é simples: se as pessoas se conhecessem, namorassem e casassem com uma só pessoa e permanecessem fiéis por toda a vida (ói que chato!) não haveria DST's. Está correto.
Essa é a vontade de Deus, e a Igreja não está errada em sustentá-la, por mais que tenha erros próprios ao longo de sua história e por mais que a vontade de Deus pareça maçante. Mas Deus não é religioso, e suas vontades embora claras, nem sempre são o que parecem, ou o que querem que pareçam os seus supostos prepostos.
Ademais, as mulheres têm muito mais para se preocupar a cada dia: os "leões" que precisam matar para se imporem em seus ambientes de trabalho; as dificuldades que enfrentam em suas casas, como chefes de familia, criando sozinhas seus filhos; e a vindicação de sua dignidade, que hoje é vendida junto a cervejas. Com tantos problemas não dá para ficar esquentando a cabeça com meras palavras que o vento leva.