Resenhas Do Carnaval

   Eu devia sair de casa com um bloquinho de anotações. Carnaval dá assunto pra mais de anos para quem é bom observador, e eu não deixo passar nada! Esse ano até que foi beleza, tudo na calma, afinal, coisas desagradáveis acontecem, mas até que vi poucas dessa vez. Interessante mesmo é o "comportamento" da festa a cada ano, como agem as pessoas, os artistas e as entidades que desfilam, e isso tuddo eu registrei muito bem.

   Lembro de que quando saí de casa, no primeiro dia, uma amiga minha e de minha mãe ligou e me disse pra tomar cuidado com a polícia. Em qualquer outro lugar se diria "Tome cuidado com os bandidos", mas ela tinha razão em dizê-lo sobre os policiais: eles haviam saído de uma greve inglória e estavam retados por isso, logo, iriam "pintar e bordar". Até que foram mais educados dessa vez. A excessão foram algúns imbecis que utilizaram sprays de pimenta só para abrir caminho.

   Quanto aos blocos, destaco a beleza do Cortejo Afro e a alegria dos Mascarados. Digna de nota foi a atitude de Margareth Menezes, que saiu no seu Afropop sem aquela turma que tornava o bloco um pé no saco: Muzenza, Gandhi etc. Aqueles blocos são bonitos de se ver de longe, prova disso é que o Afropop estava quase vazio esse ano. Durante o percurso as pessoas, vendo que ela estava só, poderam comprar o abadá a R$ 20,00 e a coisa encorpou um pouco e creio que no próximo ano sairá cheio.

   Os Filhos de Gandhi definitivamente perderam a referência. Quase não se via gandhi preto, e no bloco quase não se via gandhi branco; estavam sempre onde não deveriam estar, e galinhando que só a porra! Esses meninos brancos compram aquela fantasia apenas pra tirar ondinha e beijar todas, mas nem no bloco permanecem. Não raro se via gandhis com abadás do Eva e blocos afins por cima. Isso é um crime!

   No tempo dos pretos havia todo um ritual: um gandhi passava e a moça o chamava e pedia para que ele lhe aspergisse aquela lavanda, algo como "me abençoe"; feito isso o rapaz então pedia um beijo, tendo o recebido e gostado, o que resultava numa certa demora, o rapaz, de bom grado, presenteava a garota com um colar.

   Hoje não. O Ganhi tá na Castro Alves mas no Barra-Ondina tá cheio deles passando o rodo na mulherada, andam em bando e formam uma linha que mais parece uma rede de arrasto; forçam a barra, já chegam empurrando o colar e a boca e estão sempre se metendo em brigas. Gente, Filhos de Gandhi eram pacificadores! Contudo, foi um gandhi que protagonizou o momento mais belo da festa: no defile de Morais Moreira, já em Ondina, um velho bêbado ousou atravessar uma daquelas "cordinhas" de policiais e o fizeram retornar com certa "veemência"; pois o gandhi pegou a sua lavanda e aspergiu nos coturnos de todos eles. Foi lindo!

   No mais, todas as estrelas brilharam, até quem não tem luz própria como os filhos de Bell Marques, que não cantam porra nenhuma. Destaque para Daniela Mércury, Magary Lord, Tomate e Saulo Fernandes. Mas quem brilhou mesmo foram os foliões pois se comportaram muitíssimo bem dessa vez; deu pra sentir mais humanidade nas pessoas; até os pivetes estavam mais dóceis. Seria devido à promessa de "fim do mundo" em 2012?...