Resoluções De Fim De Ano
Ontem tive a interessante idéia de ter resoluções de ano novo:
Primeira: parar de beber. Álcool envelhece. Segunda: ir pra cama todas as noites às 21:30 hs, bem, às 22:00 hs. Terceira: malhar muito. Tenho bebido cerveja demais. Põe demais nisso...Talvez eu devesse ouvir o conselho de Rangele Paez e trocar a cerveja por cachaça e a comida por cigarros; oitenta por dia, precisamente. Sua pregação é: "Quando se fecha a boca o espírito se afunila e a gente emagrece!" Quando já estava quase no corpo ideal (para um cabo de vassoura) a mãe a internou.
Não, não tenho essa criatividade. Quarta, e a que primeiro pus em prática: sair mais com meus amigos; o mal é que isso inclui tomar todas, dados os amigos que tenho. Roberto Catão estava bêbado numa discussão acalorada com o cachorro da mãe e dona Letícia me pediu para dar-lhe conselhos "Já que você é o amigo mais ajuizado dele"; pedi a Beto que pusesse o celular no ouvido de "Pompidoo" e xinguei aquele poodle afrescalhado de todos os palavrões que pude.
Rangele, num bar do Rio Vermelho, cantava "La Marseillaise" ao telefone com aquela voz aguda, para a petição de morte dos que se encontravam alí. O pior é o "Allons! Enfants de la Patrie!" com o "i" infernalmente arrastado como só ela consegue; por lá estava o resto da galera, trêbados. Só encontrei Marcos, um amigo ótimo, especialmente quando não está chorando a falta de um amor de verdade ou sob o efeito de nenhum antidepressivo.
Me falou da crise existencial que sempre o assola em momentos festivos tais como reveillon e aniversários; que sua mãe o oprime e seu pai o despreza; de como se sente desperdiçado; dos remédios que toma etc. Nada que já "não tenha saído no A Tarde". Socializar para Kinho é ir ao psicanalista. Como tava afim de sair o chamei para bebermos algo e conversarmos sobre aquilo. Companhia "ótima!"
Seu maior problema é que, se há alguém nesse mundo que não precisa de anúncio prévio, é ele; mas ainda assim quer se fazer notar. Extremamente branco, de cabelos extremamente pretos, olhos extremamente azuis e belíssimo, o cara chama mesmo a atenção. Mas precisava daquele jeito extremamente afetado? Anda na rua com a mão no peito, como uma senhora pudica do século XVIII e vira-se pra olhar de volta pra todo sujeito que lhe olha, ou seja, todos; fora a rabiada de pescoço, que não dá pra descrever.
A pessoa quer censurar mas tem receio de ele fique mudo, desabe em lágrimas e se jogue debaixo do primeiro carro que passar. É sufocante! Chegamos ao bar onde bato ponto e uma amiga cantora não tocaria, coisa chata. Aceitei a sentença que havia me dado e passei a ouvir pela enésima vez a história de meu amigo. É claro que eu estava enchendo a cara.
Então me dei conta de que estava fazendo a coisa certa, as pessoas se ajudam, e ouvir, apenas ouvir, ajuda muito. Instantãneamente deixei de ter vergonha do meu amigo só porque não consegue esconder a sua condição sexual e passei a me orgulhar de ter ao lado uma pessoa confiável, digna e que gosta muito de mim para jogar conversa fora por um bom tempo e assim recarregarmos as nossas baterias. Um Amigo! Ele também mudou o seu semblante para melhor. E saimos rebobinados, e tontos!
Não importa como são seus amigos. São seus amigos!
Às vezes, evitamos algumas pessoas pensando que seus problemas nos contagiarão e baixarão o nosso astral, mas é o contrário! Temos que saber dividir a nossa energia positiva, com a presença, com conselhos e, ou, simplesmente ouvindo, porquê, às vezes, tudo o que nós mesmos desejamos é ter alguém que nos ouça.