Um Ano Da Missa Dos Vaqueiros. Aff!
Recentemente ocorreu uma curiosa festividade conhecida como "Missa Do Vaqueiro de Jaguara", um longínquo distrito de Feira de Santana, muito, muito prá lá de Feira, e tão quente que se o inferno planejar abrir uma sucursal não haverá melhor opção. Nesse ano eu não fui; devo ter feito algo realmente bom para isso. Mas como me tweetaram de Salvador perguntando se iria lembrei-me dessa ocorrência de "my life" e resolvi contar-lhes minha experiência no ano passado.
Há dois caminhos para se chegar àquele purgatório, e é claro que fomos, eu e meu tio (um espetáculo de homem que só não soube ser um bom marido para minha tia) pelo mais rápido, ou o que deveria ser. É que até a Via Ápia era melhor sinalizada, sem falar das pedras com complexo de déficit de atenção, dos trocentos “mata-burros” e da poeira, que faria alérgica a Grande Esfinge. Após a chegada, é claro, fomos beber, e eu bebi da pior maneira que se pode, que é quando a gente bebe de raiva. O resultado é que fui dormir cedo e felizmente perdi alguma coisa.
Na manhã seguínte uma dessas coisas que aparecem vez ou outra em nossas vidas se declarando parentes por parte duma parte que você não conhece ou que já partiu, lembrou a todos na mesa de como eu estava bêbado, o que arrancou risos dos comensais, e de mim a minha melhor cara de mau.
Os que mais riram foram minha tia e seu novo namorado, que é de Jaguara. Aliás, se isso aqui fosse um livro aquele menino teria dez capítulos. A criatura: um pós-adolescente um tanto simpático que, no entanto, toda vez que abria a boca fazia a Língua Portuguesa chorar de aflição e dor. Tudo bem que é um peão na metade dos quarenta anos da minha tia, que embora tenha corpinho de menina e carinha de vinte e cinco não pode reclamar da sorte, haja à vista o mancebão que achou na roça.
Se bem que pelos exemplares de meia idade que vi por lá creio que essa beleza logo se transfigura. Esses caras da zona rural são jovens fortes e bonitos mas se tornam velhos feios e desabados rápido; especialmente depois dos trinta, quando os dentes caem. Também, comem cada coisa… Ele insistiu para que experimentássemos “Abroba” cozida com leite de vaca, experimentei, e é pena não ter um grande inimigo para oferecer aquilo. E o "cambreche"?! Essa iguaria é nada menos que farinha de mandioca (em minha familia ainda se diz "Farinha de Guerra") com um pouco de sal e açúcar embebida em leite de vaca ainda quente, acho que saído daquele negócio lá do animal. Quando disse-me que era “Saudio” e que eu precisava experimentar, o meu estômago, que já havia levado uma lapiada daquela abóbora, se escondeu atrás do fígado com medo de que eu fosse ter coragem de sacaneá-lo duas vezes no mesmo dia.
Lá vou eu para a tal Missa. Tinha mais cavalo do que gente; mas justiça seja feita: tinha também muita cerveja, e bebe-se bem naquela sauna. O seviço religioso começou com duas malucas cantando um abôio triste (e demoraaaaadoooo) que fazia reverência à areia vermelha do sertão e lembrava que a ela tornaríamos na morte; ói que porra! Me piquei pro bar! Sou algum boi?
"Pega" mesmo só houve um. Ia ter um show de forró e eu não fui; fiquei bebendo perto do carro do meu tio (ex da minha tia) que tinha me levado; tinha um mauricinho gato mesmo, um príncipe da beleza e, como eu tava com alma de puta queixei o cara. E que safado! Tomei seu castelo de assalto e não poupei nem a Prega Rainha... Que revolução! Afirmo que o cara é gato porquê quando já estava sóbrio ele ainda se mostrava lindo, ademais a gente trepa até hoje - foi a primeira vez que deu a bunda, é o que diz. Mas o fato é que se não fosse por ele todo aquele dia esquecível não estaria em minha memória hoje.
No dia seguínte tomei bronca do meu tio que nos acordou nus no possante dele. Tudo porquê a vizinhaça daquela rua tava indo em romaria nos olhar pelos vidros. Monte de pobre que nunca viu rola! Agora veja se tô errado: estava num vilarejo mais quente que Vênus; só via cavalo e gente velha; tinha que equilibrar os ouvidos entre forró da antiga e pagode baiano; celular não funcionava; a única diversão era beber e eu já tinha tomado todas, ou seja, tava fudido. Quê mais eu queria se não foder? Quando vi o um cara bonito, sozinho quem nem eu e igualmente injuriado por estar ali eu dei logo meu grito de guerra: "Clariou!" Saí da escuridão e fui pra luz! Aonde que eu ia deixar de gozar no meu próprio estupro!
E no quê isso é útil para você? Em tudo! Não há situação ruim da qual não se possa tirar proveito, aprenda. Às vezes a gente está num lugar sem o menor tesão de esrtar. Mas ficar dando ataque não resolve; você não precisa transar com ninguém, basta procurar ali alguém com quem você possa aprender alguma coisa e já terá valido de algum modo a provação.
Abração a todos,e viva o RockInRio!